sexta-feira, 30 de junho de 2023

Tempo e Selva, Herzog

 - de manhã, na ESPL. do D., atinge-se a p. 50 do livro de Herzog, iniciado ontem na FNC-COL; a representação da Categoria do Tempo é um dos Motivos mais conseguidos; por isso se parou no excerto que se transcreve, recortando-o, para  cumprir a extensão média do que se reproduz nestas Casas:

A partir de agora, há qualquer coisa que começa de forma quase acidental, como se um novo companheiro, permanente, tivesse chegado imperceptivelmente, um irmão natural do sonho [...]: um tempo amorfo de sonambulismo, embora tudo seja real, imediato, palpável, assustador e irrefutável no seu presente - a selva, o pântano, as sanguessugas, os mosquitos, a vozearia dos pássaros, a sede, a comichão na pele [...]. Um pássaro nocturno grita e passa-se um ano inteiro. Uma gota de água sobre a folha encerada de uma bananeira capta um raio de sol por um instante e passa outro ano. Um carreiro de milhões e milhões de formigas aparece da noite para o dia, vindo do nada, e segue por entre as árvores [...]; o desfile segue a sua marcha, imperturbável, durante muitos dias e desaparece tão abrupta e misteriosamente como surgiu, e mais um ano passa. [...]

Werner Herzog, O crepúsculo do mundo, Zigurate, 2023, pp. 50 - 51