segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

«Madrugada (Ritual da)»; Manuel da Fonseca

 - E., em contexto «PAND.», decidiu que não limitaria os «leitores» ao «bem esquartejado» «Sempre era...»; mantém-se a questão de não se lembrar do que foi feito das edições «antigas», da «Forja», por exemplo, algumas autografadas para a alentejana Zé ... 
      - [foi «debater» a questão com a General e voltou...; última hipótese, na Garagem?? - NÃO, a 01-03...]
- não se lembrava, também, dos contos de »Tempo de Solidão»; este, particulamente, «remete-o» para o C. do S., para o Estaminé do Pai Velho («Curtos» e «Meio-Curtos»...) , para «os Marítimos» ( e «Estivadores»...), para a «Casa do Conto», à esquina da D. Luís I...; para a Infância...

RECORTE da Situação Inicial:

Rumorosa, na madrugada escura, a chuva metralha as ruas e as paredes encharcadas. Áspero, o vento sacode as cordas de água, raspa pelas esquinas e entra na taberna, onde a espaços chegam, vindos do rio, os uivos abafados e longos das sirenes dos navios.
    A taberna está cheia de marítimos. Uma lâmpada saída da parede atira com a luz crua contra as caras e os troncos, apagando-os pela altura do balcão. Daí para baixo é tudo sombra densa até à serradura empapada, negra, que cobre o chão.
— Aguardente ― grita alguém, de modo a ser ouvido.
O taberneiro, como a luz lhe dá pelas costas, move-se, disforme e escuro, por detrás do balcão.
— Três! ― gritam-lhe de outro lado. [...]

Manuel da Fonseca, Tempo de solidão, p. 39 da Reimpressão de 2014 (1. ª ed.: 1973?; 1969?)

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

«Marcenda»; formas de tratamento e Nome + Teoria da (Escrita) da Carta

- de excerto proposto hoje («Teoria da Escrita da Carta»):

[...] Claro está que Ricardo Reis não admitiu, sequer, a hipótese de tratar Marcenda por (“)excelentíssima senhora dona(“), ou (“)prezada senhora(“), a tanto não lhe chegaram os escrúpulos de etiqueta, mas, tendo eliminado esta fácil impessoalidade, achou-se sem léxico que não fosse perigosamente familiar, íntimo, por exemplo, (“)minha querida Marcenda(“), porquê sua, querida porquê, é certo que também podia escrever (“)menina Marcenda(“) ou (“)cara Marcenda(“), e tentou-o, mas menina pareceu-lhe ridículo, cara ainda mais, depois de algumas folhas rasgadas achou-se com o simples nome, por ele nos devíamos tratar todos, (“)nomeai-vos uns aos outros(“), para isso mesmo o nome nos foi dado e o conservamos. Então escreveu, (“)Marcendaconforme me pediu e eu lhe prometi, venho dar notícias (“), tendo escrito estas poucas palavras parou a pensar, depois continuou, deu as notíciasjá foi dito como, compondo e adequando, unindo as partes, preenchendo os vazios, se não disse a verdade, muito menos toda, disse uma verdade, acima de tudo o que importa é que ela faça felizes quem escreve e quem irá ler, que ambos se reconheçam e confirmem na imagem dada e recebida, ideal seja ela, imagem que aliás será única, pois na polícia não ficou auto de declarações que faça fé em juízo, foi apenas uma conversa, [...]

[sublinhados acrescentados]

José Saramago, O ano da morte de Ricardo Reis, pp. 227, 228 da edição de 2016,17

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

«O ROSTO COM QUE FITA», Paulo Teixeira

[«esquecido» como sempre, E. «entrou» atrasado na «Sessão de Pares» e, no «paralelo», M. J. C. disse que tinha apreciado o poema de P. T. que E. deixara «pela Mesa» do Qd.o «DDT»; enquanto aquela «decorria», passou-lhe outro, o que segue,  pelo «2.º paralelo»...]

O ROSTO COM QUE FITA

A lenta descida das alturas do clima
para o espaço físico, sem memória,
sem bandeiras, sem oráculos ne
m heróis.

Envolta numa bandagem de gelo,
a Europa, nas primeiras horas da manhã
de Março, entre o display e a escotilha, 

entre o mapa e o território, adormecida,
por momentos, na ausência de poder
que se deduz da plácida geografia.

É uma questão de escala e de altitude
o desejo do cartógrafo: medir o espaço
e desenhar-lhe com os dedos os contornos.

Este o prazer secreto da agrimensura,
a passagem, numa pausa entre nuvens,
de paisagem árida, lunar, à topografia.

Portugal é uma orla, um  fino recorte
do mundo, e torna-se mais nítido
o rosto com que fita o oceano.

Em baixo, os pequenos pontos luminosos
são o presente e a intenção que move
os veículos pelas estradas nacionais.

Desces para uma história de vida,
além da mancha de retalhos da lavoura.
O rio, as pontes, a torre e o mosteiro,

as docas vazias de Alcântara, pontuam
de referências conhecidas o cenário
onde encenar de novo uma pertença - 

a trepidação no regresso ao script de origem,
ao logos de nascença, a razia aos prédios
e a queda inapelável no real quotidiano.

Paulo Teixeira, a comoção do mundo, Caminho, 2020, pp. 31-32 

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

«O regresso de Júlia Mann...», Teolinda Gersão

- veio pelos «CTT», visto que as livrarias foram «confinadas»...; é pela «(falta de) lógica que nos (des)governa», que  começa a (audio)ENTREV. de hoje do OBS. à autora - «uma pedrada no charco», como sempre [...] 
- E. vai na segunda narrativa deste livro, na página 44