terça-feira, 23 de maio de 2023

«Ulisses», de Joyce: «atirem-se lá para dentro» (A. L. Coelho)

 - será agora que também R. se «atirará»a Ulisses»?, [finalmente e «já perto do FIM?»]; só no 73.º programa - «Volta ao Mundo....»;   A. L. C. se lhe «atirou»...; 

RECORTE(s):

«O livro de hoje assusta mais do que qualquer outro nesta «Volta ao Mundo»; como muita gente, larguei-o várias vezes. Mas, chegando ao fim, o mais importante será dizer a quem não o leu: «atirem-se lá para dentro» [...] E não ter medo dele é começar na primeira página e ir em frente, como em qualquer romance. Sugiro que não pesquisem [...] deixem isso para uma releitura. [...]

sexta-feira, 12 de maio de 2023

Confinado em Eboli; Carlo Levi

 - terminada a Era dos Quadrados, voltou a haver tempo para as Letras «não-Lusas» ...: alcançada a página 108 [de 239] .... desta obra-prima (de 1945), (1.ª obra de Carlo Levi), em recente reimpressão, vinda da BiblioPenha, e caracterizada, na ContraCapa como «[narrativa] na qual se mistura ficção, memória, registo sociológico, ensaio e literatura de viagens»...; «confere»; é tudo isso e não só... [...]

RECORTE (com excertos em Discurso Indirecto Livre):

   O presidente da Câmara reconhece-me e  chama-me. É um homem novo, alto, grande e gordo [...] É o professor Magalone Luigi: mas não é  professor. Ensina na escola primária de Gagliano; mas a sua principal função é vigiar os confinados da vila. Nesta tarefa ele põe [...] toda a sua energia e o seu zelo. Então não foi ele considerado por sua Excelência, o governador civil, como encontrou logo forma de me dizer com uma vozinha aguda de castrato que sai suave e satisfeita daquele seu corpanzil, o mais jovem e mais fascista entre todos os presidentes de Câmara da provincia de Matera? Não posso fazer menos do que congratular o professor. E este dá-me informações sobre a vila e sobre o modo como me devo comportar. Ali há alguns confinados, uma dezena ao todo. Não devo vê-los, porque é proibido. De resto, são gentalha, operários e assim. Eu, pelo contrário, sou um senhor, vê-se logo. [...] Mas como é que eu me fizera mandar para o confinamento? E logo naquele ano, em que a Pátria se engrandece. [...]

Carlo Levi, Cristo parou em Eboli, Livros do Brasil; pp. 24-25


quarta-feira, 10 de maio de 2023

«dois rios», Tatiana Salem Levy

 - leitura desta «narrativa gemelar», de 2012, terminada às 17 horas - com muitos «saltos» na «2.ª metade», aquela em que a narração de 1.ª pessoa passa de Joana para a Voz do irmão gémeo, Antonio - [...]

RECORTE(S):                              35

Depois de duas horas de caminhada, um longo corredor de palmeiras nos recepciona. Enormes caranguejos azulados afundam suas patas no mangue do lado esquerdo de quem chega. [...] Musgos se espalham por todos os cantos: pela igreja, o chafariz, os postes de luz, a bicicleta solitária, as casas abandonadas. O gramado cresce sem governo, há ferrugem nos bancos da praça, as heras sobem os muros das construções.
O cenário seria bonito, não fosse para mim a imagem escancarada da passagem do tempo. Dois Rios tornou-se um fantasma: as mesmas casas, a mesma praça, as mesmas ruas, carcomidas pelo abandono e a umidade.
Lembro-me de tudo. Mais do que eu imaginava. Vejo-me a correr com as outras crianças, a pipa no céu, os cães atrás de nós; vejo-nos a jogar amarelinha, a comer churrasco no gramado, brincar de esconde-esconde, de pega-pega. A pele vermelha descascando, as pernas cobertas por mordidas de mosquito, a roupa sempre suja de terra, rasgada por conta dos tombos que levávamos. [...]

Tatiana Salem Levy, dois rios, Tinta-da-china, 2012, pp. 56-57

quinta-feira, 4 de maio de 2023

«Um Nome», Barreto Guimarães

Um nome

O nome que tu transportas é o nome
onde és tudo. O nome: és
tu que o és. Em teu nome
tu és tu. É
um nome que te leva com
o seu número de letras a
certa altura maior do que um simples
nome em ti. Significa mais
significa: justiça
(dignifica-se a si mesmo) um tal nome
significa-te. Porque esse teu curto nome foi
um nome que cresceu
para continuares a ser nele
para seguir sendo
o teu.

João Luís Barreto Guimarães, O tempo avança
por sílabas, Quetzal, 2019, p. 66 (de Luz última2006)

[a pedido de M. J. C., R. vai enviando pequenos conjuntos dos poemas que «abriam  Quadrados...»; do conjunto de hoje, confiando que ainda não foi colocado em nenhumas das «Casas»...]