domingo, 7 de novembro de 2021

Dom Pedro, por Duarte Nunes de Leão, por Nuno Júdice

 O QUE DUARTE NUNES DE LEÃO
DISSE DE DOM PEDRO

 No meio do campo, onde caçava o cervo e o porco-bravo,
não pensava pedro nas coisas do mundo, nem imaginaria
que súbditos mais astutos do que ele nas caças do poder
lhe apanhariam inês nas suas redes, e depois a 
matariam como dizem as crónicas, levando-o a 
afastar-se de coisas mais mundanas para se dedicar 
à justiça, que por suas mãos praticou, pondo 
todo o rigor e cuidado na sua arte.

E porque se deleitava em executar a sentença,
tinha sempre consigo o chicote, dispensando 
os algozes que o acompanhavam. Chamaram-lhe
azedo e terrível; mas também usava de humor no
seu ofício, como quando pôs a tormento dois dos
que mataram inês, álvaro gonçalves e pêro coelho,
e ao coelho temperou as feridas com cebola e vinagre.

E se mandou tirar os corações, a um pela frente e 
a outro por trás, foi para ver se os  tinham  - o que,
visto e conferido, se pôs a comer, enquanto os
queimavam. Mas respeitava os bispos: e quando 
acusaram o do Porto de dormir com  a mulher de 
outro cidadão, [...] 
[incompleto]

Nuno Júdice, Navegação de acaso, 2013, pp. 67 - 69