sexta-feira, 26 de junho de 2020

Primeiras Letras ( a Escola antes das)

[o excerto de «As pequenas Memórias», de Saramago, que fechou o «Paraíso Pandémico»«reconduziu» D. ao excerto de «A Escola do Paraíso», de que se transcreve um Recorte...:

   [...] "Um dia, aos dois anos e meio, acompanhou os irmãos ao Colégio: nunca mais quis ficar sozinho em casa. Todas as manhãs um escarcéu, não houve remédio senão deixarem-no ir também. Ora, e que aprende? Os outros meninos soletram, rezam, fazem caligrafia segundo o Paleógrapho (é uma pena a gente não saber imitar o gótico, mas talvez um dia!), fazem cópias e contas, resolvem, mas sobretudo não resolvem, problemas de torneiras [...]; ele aprende a amar a escola, o convívio, o ritmo do lápis, as oleografias, o cheiro do papel e dos livros com estampas, as manhãs atapetadas de chuva... [...]"


José Rodrigues Miguéis, A escola do paraíso (1960), Estampa, 1993, 9.ª Ed., p. 39


segunda-feira, 22 de junho de 2020

«Autobiografia», José Luís Peixoto

- «aleatoriamente», os «recortes» com que se «fechou» o «O Ano da Morte...» (o «diálogo» entre...):
Silêncio na noite e no autocarro, os poucos passageiros não falavam, ninguém reparava na labuta do motor, mas Lídia estendeu um canto do olho na direção do livro que José levava, El Año de la Muerte de Ricardo Reis. E, nesse mesmo instante, de repente, uma revelação instintiva, José apenas deu conta do que disse depois de o verbalizar, estive em Lanzarote.

Estas palavras foram o centro de um vórtice, um uníssono cósmico, confluência de necessidade e sentido, Lídia olhou diretamente para o rosto de José.
Grata pela coerência, pela prova infalível do livro em castelhano, a pele de Lídia descansou. Noites mal dormidos, isolamento, apenas o filho, a ama, as freguesas, o dono do minimercado duas ou três vezes por semana, de surpresa, a tocar-lhe com o joelho, a emperná-la, como queres que chegue à caixa?, apenas os desconhecidos do autocarro, de manhã e à noite, apenas um telefonema por semana para a vizinha  da avó em Cabo Verde, a avó a não querer apoquentá-la, os primos durante segundos, trinados crioulos, mana.
Estive em Lanzarote, não achei meio de avisar-te. Antes de dizer uma palavra, Lídia folheou o livro. Sim, as páginas todas escritas em castelhano. Lídia queria acreditar. Olhando para José, saciando a vontade que contrariou desde o início, falou por fim, saímos aqui.
José sentiu dificuldade em adaptar-se a estas palavras simples, parecia-lhe demasiado, mas Lídia avançava já pelo corredor do autocarro, não podia perdê-la de vista, hipnotizado pela elegância daquele corpo sólido, pernas grossas, braços grossos, mulher densa.
A noite outra vez, temperatura, trevas e iluminação pública. A euforia de José conseguia satisfazer todas as perguntas. Naquela estrada de Sacavém, caminho inclinado, José descrevia uma ilha, talvez correspondesse a Lanzarote, ou talvez não. Indiferente à geografia, recuperou o brio da sua força. Ao longo do dia, não obstante a insistência, apenas bebeu água da torneira, três copos cheios. Além disso, aquele livro misterioso salvou-o. Estive em Lanzarote, genial. […]

José Luís Peixoto, Autobiografia, Quetzal, Lisboa, 2019 (Julho), pp. 132 - 134

sexta-feira, 5 de junho de 2020

Velho Paraíso, com Q. L.

- 9293, «Estação Probatória», com a Sorte de ter sido colocado no Velho Paraíso (seis Qd.s de 10.º, à tarde...)
- 0203, finalmente, seis Qd.s (de 10.º, ainda), de manhã, para poder frequentar o MEST...; a entrevista é de março de 2003 - nos Arquivos RTP