terça-feira, 24 de março de 2020

(Audio)Leituras - Campos + MEC + V. F. [...]


- F. não conhecia A. Martins, o «Leitor de Serviço»...; 
- textos de:
- Vergílio Ferreira (de um «Conta-Corrente»);
- M. E. Cardoso (Crónica «Perder tempo», Público, 26-12-2011)
- Álvaro de Campos - [o Paradoxo do «Especialista»]..., texto, se título, em  Prosa, que, na edição de Pizarro e Cardielo, da «Tinta da China», está nas pp. 516, 517;

segunda-feira, 23 de março de 2020

«Economias», Eça

Eça, Santiagu - DAQUI



[...] Alguns discursos de cunho dramático e marcial que vamos ouvindo por aí a propósito da actual pandemia — “Temos de ser chineses!”, decretava há dias alguém num programa televisivo, logo secundado, no mesmo programa, por um colega que propunha condenar ao “ostracismo social” quem contestasse as decisões da governação, o todo rematado pela exigência de “Disciplina!” vinda de uma outra figura austera presente nos estúdios que dava como exemplo a seguir o “conclave de Hong Kong”, disciplina que logo nos lembrou a Campanha Alegre e as “economias” do Partido Reformista de Eça, e cito:
[...]
— (…) Assim, por exemplo, a questão religiosa é complicada. Qual é o vosso princípio nesta questão?
— Economias! — disse com voz potente o partido reformista.
Espanto geral.
— Bem! E em moral?
— Economias! — bradou.
— Viva! e em educação?
— Economias! — roncou.
— Safa! e nas questões de trabalho?
— Economias! — mugiu.
— Apre! e em questões de jurisprudência?
— Economias! — rugiu.
— Santo Deus! e em questões de literatura, de arte?
— Economias! — uivou.
Havia em torno um terror. Aquilo não dizia mais nada. Fizeram-se novas experiências. Perguntaram-lhe:
— Que horas são?
— Economias! — rouquejou.
Todo o mundo tinha os cabelos em pé. Fez-se uma nova tentativa, mais doce.
— De quem gosta mais, do papá, ou da mamã?
— Economias! — bravejou.»
etc., e para fechar o travessão que já vai longo e fechando-o — dizia, pois, que tais discursos, de uma gravidade postiça e caricata, não servem literalmente para nada, ao contrário do humor que é terapêutico. [...]

Ana Cristina Leonardo, «Humor em tempo de Cólera»