terça-feira, 22 de outubro de 2024

«vermelho delicado»; Teresa Veiga

 - terminada a leitura dos sete contos do último livro de Teresa Veiga; [...]na semana passada, R. procurou os 2 ou 3 «em falta», na «Sá da Costa», em vão [...];

RECORTE da parte  final do 7.º  Conto (cujo título é o da recolha):

[...] E o seu marido, Laura? Lá por ser filósofo não tinha uma palavrinha doce, não descia à terra de vez em quando?
     Uma palavrinha doce... Dona Laura parece acordar de um sonho remoto, os seus olhos cerram-se com nostalgia. Um dia, quando se preparavam para sair à noite, ela tivera a fantasia de experimentar um batom contrariando a sua preferência pelo  natural e gostara de ver os dentes perfeitos a aparecer entre os dois arcos vermelhos.
     - E quando surgi diante dele sem saber muito bem qual seria a sua reacção perante o meu arrojo, vejo-o que torce o nariz e diz muito educadamente: faz como quiseres, mas para quê batom quando os teus lábios já são de um vermelho delicado? [...]

Teresa Veiga, Vermelho delicado, pp. 129 - 130 

quinta-feira, 10 de outubro de 2024

«Os Velhos», por M. E. C. («Adoçar a despedida»)

 - de «Adoçar a despedida» - título da Crónica de hoje:

[...] A vida ajuda a pintar a vida de preto. Morrem os pais, os amigos, os senhores da mercearia e os borrachinhos por quem se estava apaixonado. Face a esse desconsolo, basta um pequeno esforço para nos convencermos de que isto nunca esteve tão mau como está agora, os jovens nunca foram tão incompreensíveis, a moralidade nunca esteve tão soterrada e as artes nunca estiveram tão rasteiras como hoje estão.
Quem desdenha quer morrer.
Os velhos miserabilistas fazem como os namorados que arranjam discussão no fim das férias, para não custar tanto a separação. O objectivo é, um dia antes da morte, chegar à conclusão: "Não há quase nada nesta vida que me convença a ficar." [...][sublinhados acrescentados]