sábado, 2 de maio de 2020

«A humana voz»


A humana voz

Então, a passear o Saco? Quem não tem cão com saco caça. Últimos dias dos quarenta e cinco iniciais.  Repete a curta deambulação matinal. Saudoso de ouvir: Então, já de férias outra vez?
À mesma hora, o mesmo inventário da Penha, as mesmas Velhadas. Jornal, e, ou, revista para a General, café, compras mínimas garantidas e ala que se faz suspeito.
Ironias do Destino. Há décadas e décadas profissional do distanciamento activo, experimenta agora o passivo. O de um Grande Irmão? Uma proteína com Capa, afinal. Mundo às avessas. 
Solta-se o bicho quando repete que está a adorar a via virtual, quer na rua, quer nas curtíssimas sessões síncronas. Alguém apaga a Luz. Só aí acordam, querem saber porquê. Esquiva-se, como sempre.
Quarenta minutos semanais. Cronometrados com magistral requinte. Não há os execrandos desperdícios de tempo do quadrado «ao vivo». Os que se escondiam atrás da pequenina máquina têm agora vida facilitada. Basta desligar a microcâmara.
Seja às 11 ou às 15, apresentam-se espapaçados. Poupados à ansiedade da prova universal, nem disfarçam o contentamento, a indiferença arrogante. Bem tenta, duas ou três vezes, expandir leituras, solicitar-lhes a voz. Em vão.
Gostei muito de os ver. Cuidem-se. Saúde.  Até para a semana.
Até à data, intrusão, só a de uma ave canora que guinchava.
Eliminados os efeitos do desgaste presencial, já se prepara para mais um ano. Ainda por cima, imprevisível. E há uma nova semente lançada. Para Dezembro.
AVC em palco? Adiado.

Fausto