Recente, o livro de L. F. C. M. está destinado a um Longo Caminho [...]
Em epígrafe, C. M. reforça o «empréstimo» do título de Gaspar Correia:
«Nenhuma cousa desta vida humana he tão aproveitivel aos viventes
que lembrança e memória dos bens e males passados».
RESPOSTA A CAMÕES
para o Luís Quintais
ou a tarde que entrámos nas grutas de Elefanta?
Há na tarde para sempre perdido um navio
e há na noite um demónio sinistro que canta.
Os deuses que avistámos na loucura mansa
vingaram-se de nós com seu simples durar
e o Cristo que trouxemos na guerra e na bonança
fez-se deus nesta terra e perdeu-se do mar.
Foi a noite que trouxe este manso esquecer
em que a História se deu no passo de uma dança
e nos chamam de longe os que vieram morrer
além da sua terra e aquém da lembrança?
Foi a noite a entrar na igreja de Diu
ou a sombra de Deus na ilha de Elefanta?
Shiva hermafrodita desta cave sorriu
e o mundo se fez contra toda a esperança!
Diu, Novembro de 2009
Luís Filipe Castro Mendes. Lendas da Índia. Lisboa, d. Quixote, 2011 (2.ª ed.?), p. 95