La chasse spirituelle
O corpo não se furta, não se esconde
sobe e desce igual à chama
torce-se, dobra-se, vira-se sobre si
no único modo que tem
de dar-se a ver sob as escamas
o corpo é o acesso a um reino
a cidades cheias de sangue e vapor
feitas para abrigar
ringues, pistas, arenas
e palavras que nos vencem
o corpo serve-nos para filmar o escuro
uns quantos passos cambaleantes
até à inevitável rendição
como se fôssemos apenas
a presa de um século de vento
O corpo não se furta, não se esconde
sobe e desce igual à chama
torce-se, dobra-se, vira-se sobre si
no único modo que tem
de dar-se a ver sob as escamas
o corpo é o acesso a um reino
a cidades cheias de sangue e vapor
feitas para abrigar
ringues, pistas, arenas
e palavras que nos vencem
o corpo serve-nos para filmar o escuro
uns quantos passos cambaleantes
até à inevitável rendição
como se fôssemos apenas
a presa de um século de vento
José Tolentino Mendonça, Teoria da fronteira, Assírio, 2017, p. 51 (3.º poema, de 8, da 2.ª «secção», «Sans-papiers»)
Dito pelo próprio, no «Vida Breve» de 30 de Novembro