- «resolvida», finalmente, a duplicação da 6.ª Edição (de 2001) do livro (1.ª ed. de 1980) de David - com duas capas diferentes... - oferecida a A. R. P., do 2.º Bloco, em «reflexo» do poema...
Recorte da 1.ª das narrativas do mesmo:
[…] De uma dessas galerias vê de repente sair uma rapariga loura, cujo dourado rosto redondo, misto de Sol e de Lua dourada pelo Sol, irresistivelmente lhe evoca alguém que há muitos anos conheceu. Também ela, uma vintena de metros à sua frente, desce agora a rampa em espiral; mas as outras pessoas que pela rampa circulam e, sobretudo, os incríveis objectos que no pavimento se amontoam (desta vez, uma sinuosa sucessão de pára-quedas intactos) vão-no impedindo de a alcançar e de melhor confirmar então, voltando a vê-la de frente, a semelhança que tanto o impressionou.
Já para outra galeria se esgueira a cabeça
loura que dir-se-ia oscilar como um girassol em cima do seu pedúnculo. E já no
labirinto dessa galeria ele acaba por estupidamente lhe perder o rasto, entre
muitas outras cabeças que se detêm diante de nus de Modigliani ou de
visionárias paisagens de Chagall. No entanto, ao retornar à rampa espiralada,
basta-lhe assomar ao parapeito para a redescobrir, já lá em baixo, quase a
atingir o piso térreo. Enquanto prossegue a sua descida, sempre cosido ao
parapeito para não a perder de vista, compreende que ela não se dispõe a sair
imediatamente do museu, que afortunadamente se encaminha ainda para o
vestiário. […]
David Mourão-Ferreira, As quatro estações, 6.ª ed., Lx.,
Presença, 2001, p. 14 [1.ª
ed: 1980]