domingo, 24 de julho de 2022

Ocampo, Silvina

 - de «As convidadas», de Silvina Ocampo, recortes de «A Escadaria»: 

    «[...] Vinte e cinco degraus. Quando ensinava as filhas a andar, contando-os um a um, [...] Agora, sozinha, volta a contá-los, após tantos anos, por mero hábito. 
     Um.. Este degrau tem a brancura do açucar. [...]
   [...] Quatro... Este degrau, suave, mas amarelado, assusta-a. Foi aí que encontrou o colar de pedras verdes e o guardou no bolso. [...]
    Cinco... O degrau do cansaço. Nunca, nunca está limpo. Um dia, por brincadeira, alguém defecou nas suas bordas. [...] 
    [...] Dez... O degrau mais tranquilo, mais feliz. Ali brincou com a trouxa de roupa como se fosse uma boneca. [...] 
  [...] Dezassete... Algumas baratas aventuram.se pelo rodapé. [...] Dá uma certa  pena. Há gente nojenta: deixam lixo na escadaria, caia onde cair: [...]
   [...]Vinte e três... Neste degrau cai a escuridão mais perfeita. [...] 

Silvina Ocampo, As convidadas, Antígona, 2022, pp. 45-49