O QUE DUARTE NUNES DE LEÃO
DISSE DE DOM PEDRO
No meio do campo, onde caçava o cervo e o porco-bravo,
não pensava pedro nas coisas do mundo, nem imaginaria
que súbditos mais astutos do que ele nas caças do poder
lhe apanhariam inês nas suas redes, e depois a
matariam como dizem as crónicas, levando-o a
afastar-se de coisas mais mundanas para se dedicar
à justiça, que por suas mãos praticou, pondo
todo o rigor e cuidado na sua arte.
E porque se deleitava em executar a sentença,
tinha sempre consigo o chicote, dispensando
os algozes que o acompanhavam. Chamaram-lhe
azedo e terrível; mas também usava de humor no
seu ofício, como quando pôs a tormento dois dos
que mataram inês, álvaro gonçalves e pêro coelho,
e ao coelho temperou as feridas com cebola e vinagre.
E se mandou tirar os corações, a um pela frente e
a outro por trás, foi para ver se os tinham - o que,
visto e conferido, se pôs a comer, enquanto os
queimavam. Mas respeitava os bispos: e quando
acusaram o do Porto de dormir com a mulher de
outro cidadão, [...]
[incompleto]
Nuno Júdice, Navegação de acaso, 2013, pp. 67 - 69