sábado, 19 de novembro de 2016

Pessoa, «sucumbido pela falta de massa», por Luís Moitinho de Almeida

- J. recorda a leitura desta «Rep., cruzada com Entrev. ou Depoim.» (?), assinada por A. M. R. - não se lembrava era que saíra na «Tabacaria» [deve estar «por aí» - um dia a reencontrará...] 
[«somos aquilo que juntamos», isto é, «arquivamos» - artigo de hoje, cheio de Listas, do «Grande Arquiv.» J. P. P., no Público]
- releu-a agora no Arquivo-Blogue. de A. M. R. - AQUI

RECORTES:

[...] Luís não presenciou nunca os momentos em que o Senhor Pessoa, à rasca de massas, metia vales à caixa. Conserva numa pasta de papéis antigos as sucessivas notas que eram passadas no escritório. Afiança que o dinheiro, a massa, nunca lhe era recusado. [...]
O pai depositava nele uma confiança ilimitada. O pai de Luís, Carlos Moitinho de Almeida, homem avisado que não dissimulava a desconfiança em relação ao mundo, nele, no poeta, depositava confiança ilimitada, mercê do tino comercial que lhe era reconhecido. «O meu pai rendeu-se ao êxito de Fernando Pessoa. Os clientes e agentes admiravam o modo como lidava com a correspondência, louvavam o teor das cartas». Enalteciam a sua capacidade argumentativa, importante para as epístolas de carácter comercial. O pai sabia que Pessoa era um homem cheio de qualidades. Todavia, ignorava o seu talento literário. [...]

Estes são os vales: 20 escudos, 30 escudos, 50 escudos. Sucessivos vales. Amontoados os papéis, o total de parcelas perfaz 510 escudos. «Não sei mesmo se chegou a pagar. A relação com o dinheiro era horrível. Como sabe, ele andava sempre à rasca de massa». Pessoa apoquentava-se com a falta de dinheiro e com as tempestades. Impressionava-se, sensibilizava-se. Todos os verbos são usados por Moutinho de Almeida para descrever a relação; por fim, recorre a sucumbir. Sucumbido pela falta de massa.
Os vales cobriam o luxo dos fatos talhados nos melhores alfaiates de Lisboa. Lourenço e Santos era um deles. [...]
Tinha a extravagância dos fatos e dos livros. Os livros, comprados em livrarias de Lisboa ou encomendados a estrangeiros, «Talvez contactos das traduções que fazia para vários escritórios», eram pagos a pronto, na urgência de serem comprados. Os fatos alinhavam pela moda dos anos 20, uma moda masculina a que chamavam Papo Seco. Casaco comprido, muito chegado ao corpo, calças apertadas e curtas. Usou sempre esses fatos, estruturados a três quartos, todo ele meticuloso. O vinco perfeito, a camisa impoluta. Era vaidoso com os fatos; os sapatos estavam sempre engraxados. [...]
Se vistas uma a uma, as folhas rubricadas a cereja permitem perceber os momentos de aperto. Moitinho desconhece o modo de pagamento; se à semana, se ao mês, quanto valia então o dinheiro. Para que serviam 30 escudos? Todos os meses, mais do que uma vez por mês, os vales eram submetidos à gerência. Quando recebeu o prémio do Secretariado Nacional de Informação pagou tudo. «Era um homem de contas direitas, o que não tinha era dinheiro». [...]

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

«Podemos muito mais do que imaginamos» - Saramago

"Sabemos muito mais do que julgamos, podemos muito mais do que imaginamos." 

Parte da frase de José Saramago está agora num taipal na Rua Afonso de Albuquerque, no Cacém, uma homenagem ao escritor português por parte de Odeith, [...]
Vídeo no «P 3»

- Amália, Paredes e Zeca - do mesmo - na Amadora - IDEM